Há uns dias, ao passear num parque, ouvi o som de um instrumento de sopro que parecia vir do meio de umas árvores. Ainda pensei que fosse o vento que trouxesse o som de alguma escola de música próxima (era um trecho repetido vezes sem conta). Ao subir a colina reparei que, camuflado no meio das árvores, estava um homem com um trompete, praticando uma conjunto de notas de uma melodia.
Deixando-o na sua prática, refleti sobre as possíveis razões para ele estar ali no meio do parque: A natureza inspira-o? Tem receio da reação dos vizinhos? Prefere estar sozinho? Gosta de partilhar o som com quem passa? Quer exposição? Ou é só uma experiência?
Admito que se fosse eu, a opção era de não querer partilhar a "música" com os vizinhos (projecção do julgamento dos outros).
Transportando esta questão para outras formas de expressão, ouvidas, vistas ou tocadas, seja o receio do julgamento ou a incapacidade limita e restringe o que e como se faz algo.
Além da criatividade individual, a forma como uma pessoa de exprime mostra a quem quer ver outra parte da sua personalidade.
Por razões de conforto social e aceitação, é mais frequente que determinadas expressões sejam feitas em grupos ou locais, onde as pessoas pensam e agem da mesma maneira. Aqui podemos incluir expressões de arte, ideologia, questões de género, etc.
Mas o que é que é certo ou errado? Há limites para o que "devemos" aceitar? Numa era de liberdade de expressão, deverá haver espaço para intolerâncias ou mesmo para guerras?
Voltando ao convívio com o nosso homem do trompete, o importante nesta reflexão é encontrar opções que não impeçam a expressão (mas sem incluir extremismos):
- se quer tocar saxofone e não quer incomodar vizinhos, mude-se para uma área mais recatada (p.e. para dentro de um armário), ou vá para um jardim; se acha que não sabe tocar, aprenda e pratique;
- se faz tricot e tem vergonha, junte-se a um clube e pratique; encontre um grupo e desafie quem vive à sua volta;
- se não gosta de como no emprego não o deixam fazer as coisas à sua maneira, mude de emprego ou arranje um hobby para não pensar tanto no trabalho;
- se gosta de desenhar e acha que não tem jeito, pratique em casa e comece a olhar para cada vez mais longe;
- se gosta de comer mas os seus pratos não lhe saem bem, experimente novas combinações (desde que não envenene ninguém);
- se quer fazer exercício físico mas o seu corpo tem limitações, peça ajuda a um médico ou terapeuta de Bowen, por exemplo.
E sobretudo, encontre a melhor forma de praticar aquilo que gosta de fazer. Vai pensar muito menos e fazer muito mais :)
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