O dia de ontem (02 de Fevereiro) é assinalado nos EUA como o dia da marmota (Groundhog Day).
Por cá ficou mais conhecido por causa de um filme ("O feitiço do tempo"), que contava a história de um jornalista que viveu o mesmo dia em vários dias consecutivos - acordava sempre com a mesma música e para descobrir que o dia não mudava e tinha de lidar sempre com as mesmas situações. Uma das hipóteses era que ele estava sobre o efeito de um castigo divino (ou um feitiço), e que a menos que mudasse de atitude, o tempo não mudava e ele não se conseguia ir embora.
Não querendo contar o resto do filme, e tendo em conta que já passaram 30 anos a memória já não é a mesma coisa, resumo que o jornalista (após um período de desespero) foi aprendendo a lidar com o facto de não conseguir sair dali, e aproveitou esta falta de liberdade para aprender coisas que este tempo cíclico lhe permitia, acabando por ter efeito na sua personalidade e nas relações que tinha com as pessoas e situações.
Edição: Outro exemplo mais recente é uma série da Netflix, "Boneca Russa", que de forma mais crua e algo macabra, conta a história de uma mulher que morre várias vezes no seu período de aniversário, retornando a uma posição inicial, e que acaba por utilizar a informação para encontrar algum sentido na sua vida e tentar resolver os problemas. Como se existissem várias camadas, ou várias pessoas que descobrimos em nós.
Por vezes o mesmo se passa connosco, tanto a nível físico como emocional, quando existem situações de desconforto, de dor ou conflitos.
Há pessoas que vivem todos os dias afetadas por estas situações, e de o fazerem há tanto tempo, a dor passa a ser parte integrante da pessoa ('viver na dor' em vez de 'viver com uma dor').
A dificuldade em encontrar soluções e a desesperança podem levar a este estado, transformando a vida numa sequência mais ou menos contínua de dias desagradáveis.
Apesar de não termos a mesma situação de fantasia temporal dos filmes, tal como o herói da história, temos a possibilidade de encontrar algo que permita viver a situação de outra maneira (pode ser aprender piano, fazer uma caminhada, ajudar pessoas ou agendar uma sessão de terapia de Bowen), e solucionar uma situação de cada vez ou pelo menos diminuir o tamanho do elefante na sala.
Tanto em situações de dor física ou emocional, apesar de não existir uma ferramenta universal que resolva tudo, estratégia e observação permitem atenuar os efeitos, e assim conseguir passar de um dia doloroso para algo diferente e mais agradável.
Afinal, quem é que gosta de acordar todos os dias com a mesma canção?
Não quero julgar ninguém, mas a menos que lhe signifique algo muito positivo, variar também é bom e ajuda a dar mais valor ao resto.
Seja em relação a emoções, a alguns níveis de dor ou ao stress, é importante reconhecer e aproveitar a sua existência, de forma a conseguir gerir tudo isto de forma mais eficaz e personalizada.
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