Prestar atenção aos sinais internos do nosso corpo (interocepção) permite-nos viver melhor.
No entanto, de acordo com um estudo recente, por vezes o excesso de foco e de informação pode conduzir-nos a estados de alerta sobre-dimensionados. O estudo incidiu na comparação de uma população de atletas e não atletas, pois o primeiro grupo está mais habituado e educado para sentir alterações internas no corpo, de forma a poder reagir mais rapidamente.
Os estudos basearam-se em vários testes e questionários, nomeadamente sobre a consciência e denominação das sensações, e a ligação entre estas e as emoções.
Talvez porque os resultados não foram os esperados, diversas causas relacionadas com o contexto foram sendo apresentadas e especuladas: por exemplo, uma mente dum atleta é mais focada por objectivos, e apesar de reconhecer determinada sensação, pode seleccionar prioridades e abstrair-se dela em prol de outra. Inclusive, terá novos hábitos e ferramentas tecnológicas que lhe permitem não se preocupar constantemente com a respiração/pulsação ou com algum movimento em falso (de forma a recuperar mais depressa).
E neste último ponto o treino joga uma cartada importante, sobretudo integrado com a psicologia desportiva.
Dentro ou fora do ambiente desportivo de competição, o cérebro é uma componente a ter em conta. Porque o cérebro decide qual a intensidade de uma sensação, e se, percebendo que os músculos estão cansados, envia um alerta para abrandar. Este tipo de informação permite refletir onde podemos intervir e o que treinar, de acordo com o nosso objectivo. Porque se não estamos preparados (fisica e mentalmente) para caminhar 10 kms, podemos fazê-lo de forma gradual, e assim os músculos fortalecem-se e o cérebro ganha novas hábitos e formas de lidar com os desafios, através da neuroplasticidade.
A interocepção é um conceito muito amplo. Ouvir o corpo tem mais pontos positivos que negativos. Mas a evidência parece apontar para que nalguns contextos, devemos ser menos melómanos, pois há informações que podem até ser contraproducentes.
Cada corpo é único, bem como os seus limites (até com o mesmo nível de treino).
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