Os remendos como metáfora para cuidar do corpo (um post disruptivo?)
Fazer os remendos da própria roupa é de novo uma tendência, indo buscar inspiração a questões tão distintas como dificuldades financeiras, sustentabilidade, tradições familiares, criatividade ou ocupação de tempos livres.
Pode ler mais aqui:
https://www.theguardian.com/business/2023/jan/21/trend-to-mend-cost-of-living-crisis-puts-darning-back-in-vogue
Q: Mas como é que isto se relaciona com o cuidado do corpo?
R: De várias formas.
O mais óbvio é que a roupa nos protege, e por isso não convém ter buracos.
Por outro lado, se visualizarmos a roupa como uma pele, se existirem rasgões/restrições estes vão afetar a estrutura geral da peça/corpo, provocando uma deteriorização geral a médio prazo. Um remendo pode ajudar a prevenir e limitar os efeitos do tempo, prolongando a sua vida útil; por outro lado ajuda a reforçar zonas com excesso de uso.
Mas se está a pensar que numa peça de roupa é mais fácil deitar fora e comprar novo, fazer isso a um corpo ainda é complicado...
Mas como fazer remendos ao corpo, sem parecermos o Frankenstein? E não é isso que acontece quando fazemos uma cirurgia (ou passamos por algo traumático), ficando com cicatrizes para a vida?
Sim, mas neste caso foco-me numa abordagem de remendo de uma forma holística. Ou seja, pequenos ajustes também podem estabilizar e afetar todo o tecido (ou o corpo).
Um exemplo, imaginemos que temos um rasgão nas calças (ou uma dor no joelho). Se não fizermos nada, o rasgão (ou dor) podem tender a aumentar, ou mesmo afetar e aumentar o esforço noutra zona, provocando mais rasgões. Um remendo, associado a uma observação sobre o porque isso aconteceu da primeira vez (por exemplo estar muitas vezes sentado), leva-nos a ter mais consciência e a fazer ajustes no comportamento, que permitem prolongar o seu uso. Desta forma, vai permitir não só corrigir a zona do rasgão, mas também usar a peça de outra forma. Ganha uma nova perspectiva sobre a peça e esta ganha uma "nova vida".
Em grande parte das situações, possibilita evitar ou refletir sobre intervenções mais extremas e dispendiosas, como deitar fora; mas alguns casos requerem a opinião de um especialista (seja uma costureira ou um médico), antes de qualquer decisão. A educação e informação é de extrema importância.
Não sei se consegui passar o sentido desta ideia, mas resumindo, o que pretendo dizer é que pequenas intervenções (sejam remendos ou Terapia de Bowen) podem ajudar a atenuar problemas e evitar soluções mais drásticas. E o conhecimento, seja sobre costura, sobre tricot ou sobre o movimento do seu corpo, é sempre uma mais valia, utiliza as mãos e desenvolve a criatividade.
Num plano mais amplo, os remendos ou ajustes podem ser usados mesmo quando não existem problemas físicos visíveis, como um recurso para se sentir melhor e criar uma ligação mais próxima com a peça ou com o seu corpo; encontrando novas soluções para o que nos preocupa, encaminhamo-nos aos poucos para uma vida mais tranquila.
Eu já experimentei, e você?
Outras referências: https://www.ft.com/content/cbc16e22-899c-4ba9-9529-23ad41b1f42b
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