A princesa e a ervilha - um conto sobre a sensibilidade
- joaomcandeias
- 5 de jan. de 2022
- 2 min de leitura
Conceitos de dor e sensibilidade, adaptadas a um conto intemporal de Hans Christian Andersen
Para quem não conhece, vou resumir muito sucintamente o conto "A princesa e a ervilha":
Uma rapariga afirma ser uma princesa, e como não acreditam nela fazem-lhe um teste: colocam uma ervilha por baixo do colchão para verificar se a pele é tão sensível que ela sinta um grão tão pequeno (algo que só a pele de uma princesa conseguiria detectar).
No final, a rapariga não consegue dormir, independentemente do número de colchões colocados por cima da ervilha, revelando a sua linhagem real...
Pode-se estabelecer um paralelo entre esta história e a sensibilidade de cada indivíduo.
Na realidade é verdade que nem toda a gente sente da mesma forma, seja por razões congénitas, hereditárias, psicológicas ou sociais. A sensibilidade ou a dor é algo que faz parte de nós, sendo mesmo indispensável à sobrevivência.
O espectro de dor varia entre pessoas que não a sentem, e outras que a sentem a um tal nível que se torna incapacitante no dia a dia. Apesar da maioria da população estar no interior destes limites, cada vez mais se fala sobre dores crónicas (dores persistentes e que podem gerar algum nível de incapacidade ou limitação) e da importância do seu tratamento.
Neste pequeno conto, para além da moral sobre o duvidar do outro pelo seu aspecto ou forma de sentir, ou da parábola do efeito do grão no sistema/engrenagem, pode revelar uma situação biológica: a existência de uma hiper-sensibilidade que não deixa a princesa dormir. Qualquer pequena coisa pode desregular o organismo e gerar uma perturbação neurológica que provoca insónia ou sono agitado (seja uma ervilha ou outra coisa). Adaptando este conto aos sintomas da vida real, a pequena rapariga poderia ser diagnosticada como sofrendo de fibromialgia ou alguma doença auto-imune que lhe desregula o sistema.
E claro, o facto de ser pressionada pela rainha para provar a sua linhagem não ajuda o seu cérebro a relaxar. Há necessidade de utilizar um modelo bio-psico-social e adaptá-lo na análise deste caso.
Há que ter em conta todas as variáveis: o contexto da dor, ouvir a experiência do paciente, estabelecendo uma relação que crie confiança para o tratamento.

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